Lula precisa ter fotos com os pastores com a mão na cabeça dele. A igreja evangélica é um ator importantíssimo, o país é evangélico em termos de engajamento. É um erro quando a esquerda zomba dos cultos evangélicos. Há uma ideia errada em achar que o evangélico é manipulável.
Nossa oração é para que o presidente Lula acelere as mudanças que ele tem dito que vai fazer [ampliar linhas de crédito para evangélicos]. Mas Lula ainda tem que ‘se apresentar’ ao povo evangélico, tem que tirar foto com pastor, fazer vídeo com pastor.
Infelizmente, o pragmatismo está nos movendo, temos um muro que não estamos conseguindo ultrapassar, a realidade nos mostra que temos que mudar. O PT é um grande transatlântico e para fazer a volta vai levar um tempo.
Evangélicos no PT
O pastor afirma que o núcleo tem tido conversas com o presidente nacional interino da legenda, o senador Humberto Costa (PT-PE), e deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ) para que os evangélicos tenham mais visibilidade dentro da sigla. O pastor diz que ele também tem mantido conversas com o deputado federal Washington Quaquá (PT-RJ). A prioridade, segundo ele, é levar o presidente Lula a igrejas e aos cultos.
O núcleo evangélico do PT ainda não está tão poderoso quanto precisa para ajudar o partido a furar a bolha entre os evangélicos, mas está melhor do que antes. Estamos nos tornando uma voz ouvida pelo nosso presidente Lula. Estamos quebrando resistências dentro do partido para sermos uma voz ouvida.
Gleisi [Ministra de Secretaria de Relações Institucionais] deu mais notabilidade para o núcleo. Oramos a Deus para que o novo presidente do PT, seja lá qual for, dê protagonismo ao núcleo evangélico do PT, que pode nos ajudar a vencer essa última fronteira.
A candidatura do Rui Falcão à presidência do PT, na minha visão, não dialoga com a sociedade. O PT não precisa ir mais para a esquerda.
Metas para 2026
No ano passado, o pastor chegou a afirmar que se cada cidade lançasse um pastor candidato pelo PT, a sigla conseguiria “furar a bolha” e ampliar a presença de petistas entre os evangélicos. A meta, porém, não foi alcançada. Para 2026, Goiano afirma que o objetivo é aumentar o percentual de intenções de voto do eleitorado evangélico em pelo menos 10%, caso o presidente Lula se candidate à reeleição.
A meta é obter [ampliação de votos entre fieis] com candidaturas evangélicas, ter pastores, tirar o falso axioma de que um evangélico não pode ser de esquerda. Ser de esquerda é normal. A candidatura de um pastor fura a bolha. Ele ganhando ou não ganhando, fortalece o debate.
A nossa preocupação é com a ausência do presidente Lula daqui a alguns anos. Não tornarmos o PT palatável para as igrejas evangélicas. Por isso, precisamos ter a presença do presidente Lula com pastores e dizer que o debate petista não é um debate moral, mas ético.
Quando Lula assumiu em 2023 ele tinha dois desafios: apaziguar as Forças Armadas e falar com evangélicos. Hoje militares radicais estão sendo punidos. O próximo desafio é falar com o povo evangélico. Talvez não tenhamos a maioria no médio prazo. Mas nós vamos lutar para ter ao menos 10% a mais de intenção de voto.
A meta é baixa para 2026. Em 2030, temos que ultrapassar. Eles têm a máquina da comunicação na mão. A gente precisa até lá tirar o pânico moral. Eles têm grupos de WhatsApp muito mais numerosos do que os nossos. Mas a gente sabe que o desafio é a comunicação.
Futuro do PT depende das igrejas
Goiano afirma que a aproximação do PT e do governo com o segmento deva ocorrer por meio do eleitor evangélico moderado. O petista vislumbra articulações com a Assembleia de Deus e Igreja Universal. “Temos que ter um público-alvo: a Assembleia de Deus, representada pela mulher negra. É a igreja que mais tem negros no país”, disse. “Com ela é possível caminhar ao centro, com um discurso moderado.”
A resistência de estar em uma reunião com mais pastores está diminuindo no coração do presidente Lula.
A Universal tem deputados muito importantes para nós. O bispo Edir Macedo precisa muito da ajuda do presidente com os negócios dele na África. O governo Lula fez relações sul-sul muito importantes. A Universal não deve aderir de novo ao bolsonarismo.
O caminho do presidente é se aliar ao evangélico moderado, falar da família, ele tem falado mais da mãe dele. De 2018 para cá, o PT se aproximou muito da igreja evangélica, mas não tínhamos a polarização que temos hoje. Nossa luta é mostrar que é normal o evangélico votar na esquerda.
O futuro de qualquer sociedade depende do grupo mais organizado. Não existe no Brasil uma instituição mais poderosa do que a igreja evangélica. Ela se tornou esse fenômeno cultural ao chegar a todas as classes sociais. O futuro do PT também depende das igrejas evangélicas.
‘Falha está na comunicação’
O diagnóstico do pastor é que o PT tem errado na forma de se comunicar nos últimos 30 anos. Goiano, que avalia positivamente o trabalho do ministro da Comunicação, Sidônio Palmeira, diz que o PT precisa mudar a comunicação com o segmento evangélico por meio de novas peças publicitárias e com menções
Esquerda não pode representar uma ameaça para as pessoas. Quando a esquerda defender o fim da escala 6×1, por exemplo, pode dizer que o evangélico terá menos tempo para ir à igreja. Na peça publicitária, dizer: ‘olha, isso é para você frequentar a tua igreja. O evangélico tem que se ver no governo.
A comunicação do governo vai começar a privilegiar o segmento. Hoje,o herói da sociedade é a igreja evangélica.
PT, pautas ditas ‘identitárias’, aborto e drogas
Goiano defende que debate o considerado “identitário” não pode “sufocar a esquerda”. “O PT precisa voltar às suas origens lembrando que o nosso debate é econômico”. Ele diz que a esquerda precisa mudar a forma como comunica a mensagem em temas como descriminalização do aborto e das drogas.
Há um debate na comunidade LGBT muito sensível e que assusta a sociedade, que é o das crianças trans. Se a questão da sexualidade humana já é tão complexa para adultos, que dirá para uma criança. É um debate que só vai atrapalhar a luta por direitos da comunidade LGBT. Na minha visão, como pastor petista, é um excesso.
O aborto deve ser raro, seguro e legal ou seja, não é todo dia, não pode ser regra. A esquerda poderia começar as frases dizendo “sou contra o aborto”. Eu sou um pastor e sou conservador em costumes e entendo que o aborto é um assassinato. O presidente Lula é contra o aborto, mas entende que deve manter a lei, que já é avançada.
A mulher preta não quer a legalização das drogas, quem defender a legalização das drogas vai perder a voto da igreja evangélicas. Sou contra a legalização das drogas. Precisamos trazer o problema para a luz. Vamos ter que enfrentar essa crítica dentro da esquerda. As drogas não devem ser legalizadas, devem ser combatidas.
Pastores e segurança pública
Pesquisas recentes têm mostrado que uma das maiores preocupações dos brasileiros é com a segurança pública. O pastor afirma que um projeto de segurança pública eficiente deveria ser pensado em conjunto às igrejas evangélicas. A ideia dele é que pastores atuem como “facilitadores” em territórios conflagrados pelo crime organizado.
Onde a polícia não entra, o pastor é o primeiro a conseguir entrar. Nesses locais, é o pastor que o jovem com o fuzil na mão respeita.
Estamos devendo ao país um projeto de segurança pública, que não pode ser pensado sem o apoio de igrejas evangélicas, com a polícia chamando pastores para irem aos territórios. Tenho proposto o retorno das UPPs [Unidade de Polícia Pacificadora] com o apoio das igrejas.