Lar Policia Moradores da favela do Moinho, em SP, relatam medo ao aderir à proposta do estado

Moradores da favela do Moinho, em SP, relatam medo ao aderir à proposta do estado

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Moradores da favela do Moinho, na região central da capital paulista, relatam que o medo do despejo motivou a entrega de documentos para ingresso no financiamento de apartamentos da CDHU, a companhia responsável pelos programas habitacionais da gestão do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).

O crédito habitacional de até R$ 250 mil é a base do plano do governo estadual para que as cerca de 800 famílias deixem a ocupação. A gestão Tarcísio diz ter atingido 86% de adesão à proposta e que 65% do total já está com a documentação habilitada, por meio de um processo conduzido por agentes sociais e acompanhado por lideranças locais e pela Defensoria Pública.

Ao conversar com pessoas nas portas de suas casas, comércios e vielas dentro da favela nesta terça-feira (15), a Folha ouviu queixas de que a entrega da papelada se deu a contragosto.

Sem supervisão de líderes comunitários nem de agentes do governo, a reportagem entrevistou oito moradores e cinco aceitaram que a conversa fosse gravada e seus nomes divulgados. Um entrevistado disse estar satisfeito com a oferta.

Adailda Alves da Costa, 71, entregou a documentação e até já foi ver o novo apartamento. Aposentada, recebe o piso salarial de R$ 1.518, mora sozinha e precisa de uma bengala para andar. Ela diz não querer sair, mas aceitou a proposta por medo de ficar na rua. “Para onde eu vou, pelo amor de Deus?”, questiona. “Aqui é melhor para morar, mas não querem deixar a gente ficar”, afirma.

Com renda familiar de R$ 2.500, o pedreiro Francisco Marcos, 38, vive em um domicílio com a mulher e quatro crianças, filhos do casal. Ele repete a principal preocupação reportada na comunidade em relação à mudança, que é o custo do financiamento, além de despesas com contas de consumo e taxa de condomínio.

“Querer sair a gente quer, mas não está contente com o que o governo do estado está oferecendo para a gente, uma carta de crédito de R$ 250 mil. E se não conseguir pagar? Vão jogar a gente na rua?”, reclama.

O programa da CDHU tem mensalidades de 20% da renda familiar. Como a maior parte dos candidatos possui renda de 1,2 salário mínimo, é o governo que arca com a maior parte do custo da habitação.

Desempregada, Leidivania Domingues, 30, mora com dois filhos pequenos e com o marido, cujo salário de R$ 1.518 representa o total da renda da família. “Não concordamos em sair”, diz. “Já estamos vulneráveis para irmos para fora [da favela] e passar fome.”

A auxiliar de limpeza Solange Rondini, 56, diz haver pressão para uma saída rápida. “Estão pressionando a gente a sair. Não é certo, tem que ter paciência e esperar”, diz.

Inicialmente, as primeiras desocupações ocorreriam nesta terça. A ação foi adiada e a nova previsão é para o dia 22. O plano da CDHU não prevê uma remoção em massa e grupos pequenos terão pertences transportados para seus novos endereços, segundo representantes do governo.

Vendedor ambulante, Isnar Machado, 54, diz estar satisfeito com a oferta da carta de crédito e com os auxílios para mudança, em parcela única de R$ 2.400, e para aluguel, de R$ 800, enquanto espera a entrega da moradia definitiva.

Machado mora com a esposa e afirma que a renda de R$ 2.000 do casal será suficiente para pagar o financiamento. “Com muito esforço vamos pagar uma coisa que é nossa.”

As entrevistas ocorreram pouco antes do início de uma caminhada em protesto contra a remoção. Por isso, a reportagem também questionou os entrevistados sobre eventual filiação partidária, participação em movimentos organizados ou interesse político na questão. Todos negaram.

Um morador ainda relatou que no mesmo dia, pela manhã, dezenas de policiais militares acompanhados de cães entraram nas casas. Lideranças comunitárias reforçaram a queixa e acrescentaram que os agentes questionaram moradores sobre quando ocorreria a mudança.

A Secretaria de Segurança Pública do governo Tarcísio confirmou a operação e afirmou que a ação foi estratégica, para combater crimes denunciados por moradores. O órgão também comunicou que irá apurar eventuais denúncias formais e que excessos de policiais serão punidos exemplarmente.

Estado diz que adesão a plano de mudança atinge 86%

A Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e Habitação informou que o atendimento para reassentamento conta com a adesão de 703 famílias. O atendimento ocorreu de forma individual, em escritório montado pela CDHU perto da comunidade. Destas, 531 já estão habilitadas, segundo o governo.

Segundo a secretaria, a CDHU tem se reunido com lideranças desde o ano passado para apresentar as opções de atendimento habitacional.

As reuniões têm sido acompanhadas pela Defensoria Pública e por lideranças da comunidade. No primeiro desses encontros, em setembro de 2024, ficou acordado que a companhia iniciaria um cadastramento dos moradores, que resultou num diagnóstico de um potencial de atendimento cerca de 800 famílias. Portanto, a adesão atual já é de 86%”, diz a secretaria, em nota.

O governo ainda afirma manter uma equipe social à disposição para tirar eventuais dúvidas e que as mudanças serão gradativas e agendadas.

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