Lar Policia Fantasma da desdolarização volta a assombrar Equador a dias de eleição polarizada

Fantasma da desdolarização volta a assombrar Equador a dias de eleição polarizada

por admin
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O fantasma da desdolarização voltou a preocupar os equatorianos. Ele aparece toda vez que se aproxima uma nova eleição. Dada a insistência em um assunto que nunca se concretizou apesar do falatório, poderia até ter virado história, não fosse um temor real.

A poucos dias de um pleito histórico no qual os dois concorrentes se diferenciaram no primeiro turno por menos de 20 mil votos, este pequeno país andino margeado pelo Pacífico teme que um eventual novo governo da esquerda possa mexer no reinado da moeda que há 25 anos içou a economia de um drama financeiro histórico.

Não é o que diz a candidata desse setor, a advogada e ex-parlamentar Luisa González, 47. “A dolarização será mantida e melhorada”, afirmou ela no final do mês passado durante o único debate televisionado que travou com o opositor, o hoje presidente Daniel Noboa (direita).

Ocorre que seus maiores aliados já foram muito críticos à dolarização, entre eles o seu padrinho político, Rafael Correa (presidente de 2007 a 2017 depois condenado a oito anos de prisão por corrupção e hoje exilado na Bélgica), e o seu candidato a vice, Diego Borja (ex-ministro da Economia que até artigos acadêmicos escreveu com a proposta para uma saída da desdolarização). Os equatorianos têm memória.

Mais recentemente, duas parlamentares do partido de González, o Revolução Cidadã, propuseram uma “dolarização à equatoriana”, que desincentivaria o consumo do dólar físico e criaria formas de emissão de uma nova moeda própria (inclusive com rostos que homenageassem nas cédulas personagens equatorianos, não os americanos). O temor do retorno da hiperinflação veio à mente de muitos.

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No fundo de um debate público em partes manipulado por uma máquina de desinformação nas redes sociais, existe um real trauma de uma economia que se salvou com o dólar, mas que nas últimas duas décadas e meia não conseguiu encontrar o seu rumo e se industrializar para gerar empregos, estabilidade e uma perspectiva de esperança.

Quem viveu o ciclo de hiperinflação nos anos 1980 e 1990 lembra bem e tudo o que não quer é voltar para aquilo. Foram duas décadas com uma variação anual de preços acima dos 20%, com o ápice em 2000 (95,5%), o mesmo ano em que o dólar foi introduzido, e o sucre, então moeda oficial, aposentado.

É a mesma geração de quem viu nascer no Brasil o Plano Real, que está para brasileiros como a dolarização está para equatorianos.

Naquele turbulento período, o valor do dólar passou de 5.000 para 25 mil sucres. Viajar ao exterior, comprar carros que não fossem de segunda mão, endividar-se com um banco ou com um conhecido eram situações inimagináveis. Mais de 350 mil pessoas abandonaram o país, boa parte delas com destino à Espanha.

Até que o dólar foi introduzido, a inflação baixou, a vida da classe média melhorou e o cartão de crédito passou a parecer um aliado. A economia, porém, continuou dependente do petróleo e de alguns poucos produtos (como a banana, origem da fortuna do presidente Noboa). Quando o Estado se vê em maus lençóis, imprimir dinheiro, como por mais de uma década foi feito na Argentina, por exemplo, já não era uma alternativa possível, uma vez que a moeda não é própria do país.

Nos anos de Correa, com o inicial boom no preço das commodities, a aposta foi no alargamento do tamanho do Estado. Até que a queda da commodity levou ao endividamento público, e os comentários sobre mudar o modelo de desdolarização voltaram a aparecer.

A máquina estatal no Equador continua como coluna vertebral do país, que tem um volume nanico de investimento direto externo.

Somente 0,3% do PIB equatoriano era formado pelos investimentos que vêm de fora em 2023 (últimos dados disponíveis), enquanto a média de países da região, como Brasil (2,9%), Colômbia (4,6%) e Peru (1,5%) é bem maior.

O investimento vai essencialmente para a exploração de minérios (32,8%), calcanhar de aquiles da esquerda, dado que o movimento indígena se distanciou do setor depois de ter seus pedidos de moratória ignorados.

Para fazer com que os dólares entrem, há algumas alternativas na mesa enquanto um reordenamento econômico não chega. Uma, moralmente falida: a lavagem de dinheiro, que ocorre largamente no país.

Outras, mais convencionais. O país fechou no ano passado um acordo de empréstimo com o Fundo Monetário Internacional de US$ 4 bilhões. E nem um pouco menos importante, as remessas que as centenas de milhares de equatorianos no exterior enviam a suas famílias.

Ao menos 4,9% do PIB equatoriano é formado por essas remessas de imigrantes que estão principalmente nos EUA, trabalhando no marginalizado setor da construção, abandonado pela mão de obra local. É muito mais do que o que entra de investimentos direto do exterior. O país fica atrás apenas da Guiana, na América do Sul, no volume de remessas em relação ao PIB (e potencialmente da Venezuela, país cuja ditadura no poder não revela esses dados).

O “fator Trump”, no entanto, colocou essa via de entrada em risco. As deportações em massa e o temor de muitos imigrantes equatorianos de irem trabalhar e serem detidos pelos agentes de migração ameaça fazer o volume de remessas cair, um dilema que também impacta outros países da América Latina e do Caribe.

Ao longo do ano passado, em decorrência de uma seca e de uma crise elétrica histórica que presentearam a população com apagões de suas semanas, a economia equatoriana contraiu de 0,4% a 0,7%, segundo estimativas. O Banco Central prevê que neste ano haja recuperação e crescimento superior a 2,5%.

Vinte e cinco anos após a apropriação do dólar quase como um orgulho nacional, nenhum candidato sensato dirá com todas as letras que desdolarizar está em pauta, o que seria um tiro no pé da popularidade.

Enquanto personagens políticos não pararem de dar sinais de que esse tema está no topo dos projetos da gaveta ou o propuserem junto a travas contra a inflação, porém, o fantasma não ficará no passado.

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